Primeiramente é
interessante entender que a energia se resulta da interação de todos os
nutrientes, quer na matéria total do alimento ou nas trocas metabólicas. De
fato, todos os constituintes orgânicos de um alimento, ou seja, as proteínas,
os lipídios e os glicídios, representam uma energia química de constituição
potencial a ser utilizada pelo organismo animal, enquanto as vitaminas, os
microelementos e alguns macroelementos minerais, como o fósforo, representam os
meios de viabilização desta energia. Assim, a energia química de constituição
de um alimento, passando por transformações no organismo, irá constituir
energia química potencial do desenvolvimento animal, após atendidas as outras
necessidades energéticas dos mesmos, tais como a energia gasta nos processos
metabólicos, de atividade, etc., onde se exterioriza como energia térmica
(calor), energia mecânica (trabalho muscular).
A energia de um
alimento é medida em calorias, bem como as necessidades energéticas dos animais
são, evidentemente, expressas em calorias. Em nutrição animal a medida de
aferição é a quilocaloria, ou grande caloria, expressa pelos símbolos Cal ou kcal e significa a quantidade de calor necessária para elevar de
1º.C, a massa de 1kg de água na temperatura de 14,5º.C.
É evidente, no
entanto, que o alimento (energia) ingerido pelo animal não é totalmente
aproveitado, apresentando perdas, algumas fixas, outras variáveis. É importante
considerar as perdas variáveis, pois as mesmas podem ser diminuídas ou mesmo
evitadas. A primeira perda de energia que sofre o alimento se refere a fração
não digerida que irá constituir o bolo fecal. Esta fração (perda) será tanto
maior quanto menor for o coeficiente de digestibilidade da matéria deste
alimento ou de seus princípios nutritivos. Para um mesmo alimento, considerado
isoladamente, esta perda é fixa, pois seus coeficientes de digestibilidade são
fixos ou apresentam pequena flutuação.
Assim,
descontando na energia bruta a perda de energia da fração não digerível, sobra
a porção da energia química do alimento que é absorvida pelo organismo, chamada
de energia digestível.
2. DIGESTÃO DAS AVES
A preensão dos
alimentos é variável e resultante de particularidades anatômicas da boca, cujos
lábios e dentes são substituídos por uma formação córnea: o bico. Existe uma
adaptação entre a forma do bico e o regime alimentar. No caso das aves de
rapina, tem a extremidade do bico em formato de gancho onde termina em ângulo
reto e ponte agudo que é usado pela maioria das espécies para dilacerar a
carne. No caso dos carniceiros este “gancho” é mais modesto, mas nos milhafres
comedores de caracóis do gênero Rostrhamus
sua extensão é muito maior e serve para dilacerar o músculo columelar, assim extraindo-os
da concha.
A margem do bico
é afiada e resistente na maioria dos Falconiformes e a porção da mandíbula
superior é chamada de “dente-tomial”. Falcões usam este “dente” para matar a
presa com uma bicada no pescoço que lesiona a vértebra, causando morte
instantânea (hábito desconhecido entre os Accipitrideos).
A preensão dos
alimentos é influenciada sobretudo pela visão e sensações táteis do bico. A
gustação é pouco desenvolvida e a olfação rudimentar. A boca contem
principalmente glândulas mucosas. O papel digestivo da saliva é fraco,
favorecendo apenas o trânsito alimentar. A deglutição é puramente mecânica,
sendo o bolo alimentar deglutido por movimentos bruscos da cabeça. O esôfago,
antes da sua terminação, apresenta uma dilatação que constitui um reservatório:
o englúvio (exceto nos Strigiformes). A movimentação do inglúvio é controlada
pelo sistema nervoso.
O estômago das
aves compreende duas partes distintas: uma parte glandular e outra muscular. A
parte glandular, ventrículo sucenteriado ou proventrículo, é uma formação
fusiforme, cuja mucosa é rica em glândulas secretoras de suco gástrico,
semelhante ao das demais espécies. O volume deste órgão é bastante reduzido e
sua cavidade interior é bastante estreita por força de estreitas paredes; assim,
os alimentos nele não permanecem, apenas se embebendo em seu suco, que exercerá
sua ação mais adiante. A parte muscular do estômago, ou moela, permite a ação
digestiva dos sucos secretados no estômago glandular e possui ação mecânica de
esmagamento dos alimentos.
Há uma
peculiaridade em relação a estomago mecânico nas aves carnívoras; normalmente
outras espécies deglutem pequenas pedras ou grãos de areia para ajudar no
esmagamento dos alimentos. No caso das carnívoras ocorre um fato um pouco
diferente. O próprio pêlo, penas e ossos das presas tem essa função “abrasiva”
que os pedriscos e grãos de areia têm em outras espécies de aves. Após a
degradação total dos ossos, pêlos e penas utilizados no estômago mecânico para
tal função, eles são regurgitados e o nome dado a este resíduo é casting ou
egagrópila.
O intestino das
aves lembra o dos mamíferos, sendo os demais sucos digestivos semelhantes. Na
parte terminal do intestino encontramos dois pequenos colos de saco: os cecos,
cuja função principal é a absorção de água. Ocorrem aí algumas fermentações
bacterianas, porém apenas uma parte dos alimentos penetra nos cecos. Ocorre nos
cecos ainda síntese de vitaminas que, entretanto, não é de grande importância,
uma vez que a extirpação dos cecos não aumenta as necessidades vitamínicas das
aves. Segue-se o reto e a cloaca, vestíbulo comum dos aparelhos digestivo e
urinário.
3. A IMPORTÂNCIA DO FÍGADO NAS AVES CARNÍVORAS
O fígado tem um
papel essencial no controle do metabolismo energético das aves de rapina. Este
órgão tem a capacidade de direcionar os nutrientes que são fontes de energia,
dando a eles um destino adequado. Durante o período absortivo quantidades
elevadas de glicose e aminoácidos provenientes da dieta chegam ao fígado.
As moléculas de
glicose são captadas pelas células hepáticas por um processo de difusão
facilitada, já que a membrana celular não é permeável aos monossacarídeos. O
transportador de glicose predominante no hepatócito é o GLUT-2. Após ter
entrado na célula, a glicose pode ser diretamente oxidada para fornecer energia
(por meios de vias aeróbicas), pode ser armazenada como glicogênio, mas o
excesso é convertido em ácidos graxos (glicose > acetil CoA > ácidos
graxos) que entrarão na formação de triglicerídios (também chamados de triacilgliceróis),
que consistem de três moléculas de ácidos graxos ligadas a uma molécula de
glicerol por ligações éster. A quantidade de glicose destinada para a formação
de gordura é proporcional à quantidade de carboidratos ingeridos na dieta. Os
triglicerídeos formados no fígado são transportados até o tecido adiposo pelas
VLDL (lipoproteínas de muito baixa densidade), onde ficam aí armazenados. Estas
lipoproteínas são de grande importância para o transporte de triglicerídeos na
circulação, já que estes apresentam baixa solubilidade no plasma. Grande parte
dos aminoácidos que passa pelo fígado fica aí retida, nunca atingindo a
circulação sistêmica. Os aminoácidos captados pelos hepatócitos podem entrar na
síntese de proteínas. A maior parte dos aminoácidos que entram no fígado é
convertida em carboidratos.
Inicialmente os aminoácidos são desanimados, ou seja, os grupos amino
são removidos e as moléculas são convertidas em seus análogos ceto. Estes entram nas vias de
metabolismo de carboidratos, onde podem ser metabolizados para fornecer
energia, convertidos em glicose ou glicogênio, ou entrar em síntese de ácidos
graxos. A dieta natural dessas aves é estritamente protéica, porém a
necessidade de glicose nestes animais é a mesma, senão maior, pois como
predadores exercem o fator perseguição. Sendo assim é extremamente importante
que eles sintetizem glicose a partir de aminoácidos absorvidos pelo fígado,
convertendo-os assim em carboidratos.
4. NECESSIDADES NUTRICIONAIS
Informações
sobre as necessidades nutricionais de aves de rapina são escassas, isto faz com
que seja complicado tirar conclusões das analises parciais dos nutrientes
contidos nas presas de vida livre ou refeições oferecidas para as aves de
cativeiro.
5. CONCLUSÃO
O estudo de aves
silvestres ou exóticas ainda é muito restrito principalmente quando se diz
respeito a espécies especificas como os Falconiformes e Strigiformes. A
importância da energia para as aves é essencial, pois além de efetuarem o vôo,
existem espécies que ocupam o topo da cadeia alimentar e outras que são
predadas. Sendo assim necessitam de muita energia para exercer tais funções de
vôo sendo para caça ou fuga.
Bibliografia:
- PAULINO, Maria de Lourdes Mendes; SARTORI, Denise Rangel da Silva. Bases da fisiologia animal. São Paulo. 2008.
- PAULINO, Maria de Lourdes Mendes; SARTORI, Denise Rangel da Silva. Bases da fisiologia animal. São Paulo. 2008.
- FERGUSON-LEE, James; CHRISTIE, David A. Raptors of the world. New York: Houghton Mifflin Company, 2001.
- FOX, Nick. Understanding the bird
of prey. Canada: Hancock House Publishers, 1995.
- BIRD, D.M; HO, S.K. Nutritive
values of whole-animal diets for captive birds of prey. Raptor Research,
Canada, V.10, n. 2, 1976.
- ANDRIGUETTO, José Milton. Nutrição animal. São Paulo: Editora Nobel, 3. Ed. 1999.
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