Por: Marcus Silva
Gostaria de discorrer sobre um assunto, uma vez que vejo que muitos dos problemas que podemos impor à prática da Falcoaria está ligada ao tema citado acima: ÉTICA (ou a falta dela). E o que fazer quando somos obrigados a concordar que esse é um problema que se estende a todos os níveis de nossa sociedade? Não podemos apenas repreender, devemos também tentar esclarecer.
Gostaria de discorrer sobre um assunto, uma vez que vejo que muitos dos problemas que podemos impor à prática da Falcoaria está ligada ao tema citado acima: ÉTICA (ou a falta dela). E o que fazer quando somos obrigados a concordar que esse é um problema que se estende a todos os níveis de nossa sociedade? Não podemos apenas repreender, devemos também tentar esclarecer.
Primeiramente, o que seria ética? Ética
poderia ser entendida com um conjunto de valores morais e sociais, que engloba
senso de justiça, coerência de atitudes e caráter. Ética não é somente fazer o
que é permitido dentro da lei, vai além disso. Existem
diversas situações que não ferem a lei, mas são terrivelmente anti-éticas e
repudiadas.
Temos também de entender que Falcoaria,
conforme definição adotada por vários países sérios e tradicionais no assunto, é “a CAÇA de de animais em estado SELVAGEM com uso de aves de rapina treinadas”
e ponto! Falcoaria não é ter apenas uma ave na mão para ter em casa, mostrar
aos amigos, dar entrevista na TV, fazer vôos ao punho ou à isca. Falcoaria não
é manter ave de rapina em cativeiro para reprodução, não é condicionamento para
reabilitação, não é demonstração de educação ambiental e não é fazer escapes.
Daí, já podemos constatar que apenas em
situações muito especiais temos a Falcoaria sendo praticada no Brasil. A
atividade que maioria de nós pratica pode ser tudo, podemos até usar as mesmas
técnicas iniciais de treinamento e condicionamento, mas NÃO é Falcoaria, pois
Falcoaria vai muito além desse estágio.
Uma vez entendida a Falcoaria como uma
modalidade de caça, temos um princípio ético comum a qualquer modalidade séria
de caça, seja ela com arco e flecha, arma de fogo, etc, que é o princípio de
"perseguição ou caça justa" (o famoso "fair play"). Isso
significa dizer que deve ser dada à presa todas as condições para escapar que
ela teria naturalmente numa interação/relação presa x predador. Não se deve impor
qualquer desvantagem física à presa de forma a facilitar sua captura. Toda e
qualquer vantagem injusta deve ser evitada a qualquer custo. O que se busca é o
que, eu pessoalmente entendo como sendo uma vantagem tática, limitada à busca de
um melhor posicionamento, coisa que a própria ave de rapina, ao longo de seu
amadurecimento, também busca naturalmente a fim de otimizar o uso de sua
energia na captura de sua presa. A medida em que a ave evolui, as suas táticas
de presa também se aperfeiçoam. O livro do Nick Fox é muito rico nesse assunto.
Sendo mais específico ao caso da Falcoaria; A Falcoaria é a ave de rapina fazendo aquilo que ela naturalmente
faria em estado selvagem: perseguir e caçar a sua presa. Nesta equação, o
falcoeiro será inserido como um parceiro, assim como a ave poderia naturalmente
agir em parceria com outra ave de rapina (ou mesmo outro animal) para otimizar
o resultado positivo. Temos aí vários exemplos como falcões-de-coleira seguindo
lobos guarás, que afugentam eventuais presas em seu caminho, facilitando a
captura pelos falcões, inúmeras espécies de rapinantes que se associam em
casais ou grupos familiares para melhorar as chances de captura. A associação
ave de rapina x homem teria então a mesma finalidade.
Antes de voltar ao assunto do tópico,
outro ponto a ser comentado em relação à Ética é que como bons praticantes da
atividade (propositalmente não disse Falcoaria), temos a obrigação de zelar
pela boa imagem dela. E num contexto mundial notavelmente protecionista (e com
razão) com relação à vida selvagem, é de se esperar toda uma variedade de idéias
contrárias à atividades de caça, o que nos leva a ter ainda mais
responsabilidade e discernimento com o que fazemos, e mais ainda: com o que
mostramos. Temos que lembrar que o que exibimos será visto por todo o tipo de
expectador, contrários, indecisos e a favor do tema. O que achamos o máximo
pode ser justamente aquilo que representará a nossa desgraça nas mãos de
pessoas contrárias a nossas idéias.
Bem, diante de tudo o que expus acima,
pode-se perguntar o que isso tudo tem a ver com utilização de escapes. Eu
respondo: TUDO!
O uso de escapes da forma como está
sendo informado em tópicos de fóruns na internet, como se vê também em vários
vídeos no Youtube, é um tiro no pé de quem tenta buscar o reconhecimento da
atividade, seja ela Falcoaria, treinamento de aves de rapina, ou seja lá qual
for a definição.
Qualquer aspirante a defensor da
natureza identificaria em segundos, sob seu ponto de vista, vários sinais de
crueldade impostos aos animais utilizados como escapes. E esses argumentos
seriam utilizados à exaustão de modo a convencer aqueles que não tem opinião
formada sobre a necessidade de garantir a proibição da atividade. O uso de
escapes é bastante controverso no mundo da Falcoaria. Para se ter uma idéia, na
Inglaterra, o uso de escapes é proibido por eles entenderem que não está
presente o princípio de "perseguição ou caça justa". Nos Estados
Unidos, a prática não é proibida, mas bastante desencorajada pois não seria
atitude das mais éticas já que o falcoeiro pode obter os mesmos resultados sem
o uso de escapes e por entenderem ainda que divulgação errada desse recurso
pode afetar a imagem da Falcoaria como um todo.
Aí, entro com uma observação pessoal
minha: Se em países onde não só a Falcoaria, mas a atividade de caça em todas
as modalidades, é bem regulamentada e estabelecida há anos, o uso de escapes
não é algo que se fica expondo em detalhes aos quatro ventos, por que aqui,
onde ainda estamos engatinhando em busca de um reconhecimento (torcendo ainda
para que, num desfecho extremo, a atividade não seja proibida de vez como na
Austrália), divulgamos sem muita responsabilidade detalhes não muito éticos
sobre assunto tão polêmico?
Vou além, será que somos mesmo assim tão
inovadores, capazes de em cinco, dez anos de rica experiência (voando várias
aves, em várias situações, obtendo variados resultados) apresentar soluções e
idéias nunca experimentadas nesses mais de 3000 anos de prática? Por gente que
pratica de forma diária há dezenas de anos? De forma alguma digo que não somos
capazes. Sim, o somos, mas acho que devemos ser mais humildes em nossas
descobertas e ainda mais cautelosos na hora de divulga-las. Como seria
utilizada a imagem de um pombo com os dois pés amarrados a uma linha preso de
cabeça para baixo numa árvore no centro da cidade? Como seria entendido por um
leigo um vídeo onde uma ave de rapina em “close up” mata uma codorna totalmente
amarrada sob a narração de um “pseudo-falcoeiro”? Seria isso Falcoaria ou briga
de galo?
Olá Delo,
ResponderExcluirConcordo com tudo o que foi exposto. Enquanto não houver decisão sobre a posição dos falcoeiros no Brasil, não é interessante dar munição a quem é contra. Acho que é necessário ir além: quem tem experiência no assunto deve instruir e se for o caso repudiar esses vídeos/discussões, mostrando que quem tem interesse no estabelecimento da falcoaria no Brasil não compactua com métodos cruéis de abate.
Meus parabéns pelo seu blog!!
Breno
Prezado Breno,
ExcluirExatamente!
Obrigado pela participação.
Atenciosamente,