quinta-feira, 26 de julho de 2012

Imprinting

Outro assunto que vejo ser discutido de maneira bastante simplória é sobre o imprinting. A complexidade deste tema me faz sentir muito inseguro para escrever, mas em contrapartida, acho importante abrir uma lacuna para que o leitor passe a enxerga-lo com outros olhos e entenda que este tema vai muito além de uma ave ser simplesmente barulhenta.
O termo imprinting, ou como foi introduzido no Brasil, estampagem, sem dúvida surgiu como resultado da seleção natural, pois tem a importante função de permitir inicialmente o reconhecimento dos pais pelo filhote, com a finalidade de favorecer oportunamente a ligação social e de reprodução sexual com os membros de sua própria espécie. Suas características instintivas são claras, pelo fato de que uma vez que o imprinting é instalado, ele permanence por toda a vida, mesmo se for totalmente antinatural. Estudos mais antigos estipulavam janelas de algumas horas onde as aves estariam mais sensíveis e susceptíveis aos estímulos para sofrerem o imprinting. Aves precoces como patos e galinhas que abandonam o ninho logo que nascem estariam imprintadas nas primeiras 20 horas de vida. Já as aves altriciais, isto é, dependentes de cuidados após a eclosão, poderiam levar semanas. Segundo estes estudos, após este curto período, a ave não adquire mais nenhum outro vínculo que poderia ser considerado imprinting.
Hoje em dia, com a evolução da etologia, principalmante relacionando-a com a ontogenia, estudos são capazes de mostrar que o ser vivo possui um histórico de desenvolvimento e aprendizagem durante toda vida e incluem-se aí alguns tipos de comportamentos que se impreguinam ao longo de sua trajetória. Isso torna tudo ainda muito mais complexo, afinal, um casal de rapinantes convivendo como parceiros sexuais por 5, 8 ou 10 temporadas reprodutivas, onde há o cortejo, trabalho do macho para alimentar a fêmea e defender o território, enfim, depois todo o trabalho mútuo para criar os filhotes. Isso não seria um comportamento de imprinting entre o casal? O simples fato deste mesmo casal sempre voltar para a mesma área em seu período reprodutivo a fazer o ninho no mesmo local ou próximo dele também não poderia ser chamado de imprinting pelo local? Aves de rapina com comportamento gregário, como é o caso de espécimes de Parabuteo unicinctus que convivem em bandos organizados durante toda a vida com a finalidade de obter alimento de forma mais efetiva e após a captura todos se alimentam. Isso não poderia também ser considerado imprinting?
Nos países onde a Falcoaria é praticada de forma plena, diversas técnicas de imprinting são utilizadas seja para reprodução, diminuição de respostas ao medo ou direcionamento para presas, mas todas essas informações se encontram de maneira específica nos livros. Muitas vezes você vai se deparar com uma ave silenciosa e extremamente eficiente em campo criada desde a fase neonatal pelas mãos do falcoeiro.

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