quarta-feira, 11 de julho de 2012

Diagnóstico e tratamento de Pododermtite (Bumblefoot) em aves de rapina.

1.    DEFINIÇÃO

 Vale a pena compreender a anatomia dos pés dos falconiformes antes de debater a respeito da Pododermatite.
O pé é protegido por uma camada espessa de epitélio estratificado escamoso sobre o qual corre uma fina camada de queratina. Na superfície plantar existem papilas ásperas que ajudam a agarrar a presa. O pé é do tipo anisodáctilo, com três dedos voltados para frente e um dedo voltado para trás. Plantarmente na extremidade distal do tarsometatarso está localizado, embora não esteja fundido a ele, o primeiro metatársico, que serve para a articulação do dígito I, o hálux, que é um curto dedo direcionado posteriormente, constituído de duas falanges. Os dígitos II, III e IV, possuem três, quatro e cinco falanges, respectivamente. A falange distal de cada dígito é uma garra que durante a vida da ave é coberta externamente por uma garra córnea.
A rede vascular dos pés dos falconiformes é composta pelas artérias digitais dos dígitos I, II, III e IV. Na região da articulação metatarsofalângica existem as artérias pulvinares para a almofada metatársica. Neste ponto as várias artérias metatársicas formam um arco arterial plantar que liga os vasos laterais e mediais, profundamente na planta do pé, irrigando o coxim plantar. O leito microcirculatório do pé, particularmente dos dedos, possui diversas anastomoses arteriovenosas, que se supõe estarem relacionadas com a conservação ou dissipação do calor corporal.
A maior veia do pé é superficial, a veia metatársica plantar medial, que corre por baixo da podoteca.
Agora podemos definir Pododermatite: É uma inflamação necrótica dos dedos e coxim plantar que pode se espalhar para as juntas e tendões, sendo uma das doenças mais freqüentes afetando as aves de rapina que vivem em cativeiro.
Pode progredir para uma infecção profunda, incluindo necrose dos tendões e osteomielite (inflamação séptica da medula óssea e do osso, sendo produzida mais freqüentemente por bactérias alojadas nas áreas metafisiárias de ossos longos e vértebras).

2.    ETIOLOGIA

O desenvolvimento da Pododermatite plantar nas aves de rapina em cativeiro está intimamente associado à presença de bactérias, especialmente Staphylococcus. Estudos mostram que 10,8% de 37 falconiformes de 12 espécies diferentes abrigavam Staphylococcus aureus e 62,1% abrigavam Staphylococcus epidermidis nas lesões. Outros patógenos normalmente isolados são: Actinobacillus spp., Actinomyces spp., Aeromonas spp., Aspergillus fumigatus, Bacillus spp., Cândida albicans, Clostridium spp., Corynebacterium spp., Diplococcus spp., Escherichia coli, Klebsiella spp., Nocardia spp., Pasteurella spp., Proteus spp., Pseudomonas spp. e Streptococcus spp.

3.    PATOGENIA

O manejo impróprio é a maior causa dessa enfermidade. A nutrição inadequada e ausência de vitamina A, são suspeitas em muitos casos. A patologia acomete principalmente as aves pesadas. Poleiro impróprio ou piso inadequado também contribuem para a doença. Outras condições patológicas, tais como sarnas, injúrias traumáticas e ulcerações podem levar a pododermatite. Outro fator importante é o fato da ave ter o ferimento que se encontra na região dos pés em contato com bactérias patógenas. Porém é bastante discutido que o maior fator patogênico são as desordens circulatórias resultantes da inatividade física.

4.    SINTOMATOLOGIA

 A doença possui diferentes estágios. São eles:

- Nível I: É normalmente moderada e localizada, frequentemente envolvendo apenas um dedo ou pequeno ponto no centro do coxim plantar. Pode ser proliferativa tendo um aspecto de “pipoca” ou botão, que pode ser confundido com uma lesão de varíola aviária em sua forma cutânea, ou degenerativa com depressão e adelgaçamento do epitélio e em alguns casos ulcerada. Ambos os casos podem evoluir para uma crosta e são geralmente benignos. Na maioria das vezes não há isolamento de nenhum microrganismo. Lesões deste tipo geralmente estão associadas com poleiros inadequados ou manutenção da ave sobre superfícies abrasivas, que acabam por ferir a pele dos pés e a sola.

- Nível II: É mais extensa e está invariavelmente associada com uma bactéria patogênica. Há uma lesão inflamatória aguda, e o exame histopatológico usualmente mostra uma reação do tipo inflamatória com presença de tecido fibroso e células mononucleares. Muitos casos resultam da evolução de uma lesão do tipo I não tratada, embora algumas possam ocorrer expontaneamente. Uma ocorrência comum é o crescimento excessivo da unha do hálux, por falta de desgaste, e um consequentemente ferimento do coxim plantar quando a ave finca as garras sobre o alimento.

- Nível III: É crônica e invariavelmente é resultado da evolução de uma lesão do tipo II. O processo infeccioso está presente, mas já há fibrosamento dos tecidos, com a presença de um ou mais sacos cheios de material fibrino-purulento e até caseoso em casos mais avançados. Na maioria das vezes os ossos e as articulações estão comprometidos. Nestas situações somente uma intervenção cirúrgica pode resolver o problema, já que há uma resposta inicial com a antibioticoterapia, mas o inchaço reaparece tão logo que o tratamento é suspenso.

5.    DIAGNÓSTICO

 O diagnóstico é feito visualmente, examinando as garras da ave, detectando ou não a presença dos sintomas da doença.

6.    TRATAMENTO

 O tratamento é diário. Primeiramente, toda a área afetada deve ser higienizada e utiliza-se pomadas que têm em sua composição Penicilina G benzatina, Penicilina G procaína, Dihidroestreptomicina e principalmente Uréia que é excelente para remoção de tecido necrosado. Continuar a aplicação diária e a retirada de tecido necrosado com a ajuda de uma pinça até que desapareça a necrose e surja tecido vivo (cor rosada). Sendo assim é hora de mudar a pomada.
Neste estágio serão usadas pomadas que possuam Acetato de clostebol, Fenoxietanol e Sulfato de neomicina em sua composição. Estes promovem a regeneração, ou melhor, o crescimento do tecido novo acelerando o processo de cicatrização.
Recomenda-se ainda o uso concominante de algum antibiótico na água de bebida para evitar a possibilidade de uma infecção sistêmica. Este seria a Norfloxacina, seguindo as instruções de diluição e dosagem.

7.    PROGNÓSTICO

             Bom, porém varia de acordo com o estágio em que a doença se encontra.



Bibliografia:

- LEMOS, M. A influência da falta de exercícios, da alimentação e outros fatores envolvidos no aparecimento da pododermatite (bumblefoot) entre falcões selvagens e criados em cativeiro. Boletim ABFPAR, Niterói (RJ), v. 4, n. 1, p. 6-13, 2001.

- REMPLE, D. Raptor bumblefoot: A new treatment technique. Raptor Biomedicine, Chiron Publications ltd., chap. 27, p. 154-160, Dubai Falcon Hospital, 1993.

4 comentários:

  1. Seria correto afirmar que o fígado das codornas (ave mais utilizada na alimentação das rapinas) supre essa "ausência"?

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  2. Pode suprir sim. A vitamina A é bastante encontrada no fígado e ele deve ser sempre oferecido a ave. Outra alternativa que pode ser usada em conjunto é ofertar o ovário das codornas, onde encontram-se os ovos em diferentes estágios de maturação. Eles também são ricos em vitamina A.
    Enganam-se aqueles que tiram completamente a gordura do alimento para fornecer para a ave visto que esta gordura atua como facilitadora na absorção de vitaminas lipossolúveis, como A, D, E e K, por exemplo. A codorna deve ser dada inteira, com todos seus componentes.

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  3. cara como vou fazer a ave beber aguá crio um carijo e ele nunca bebeu agua na vida dele...
    eu tenho um gavião asa de telha e ele ta com no primeiro estagio da doença eu queria saber se so as pomadas resovem ou vou ter q dar antibiótico pra ele e se for pra dar o antibiótico como faço para dar a ele se ele tbm n bebe agua?

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  4. Olá, tenho uma calopsita e gostaria de saber se pomadas para cachorros, mas com a composição descrita também servem para aves.
    Obrigada desde já.

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