Fábulas

"Uma antiga história dos cavaleiros do oriente nos conta como, por volta do ano de 1180, dois jovens príncipes, um deles de nome Temüdjin, após terem sido derrotados em batalha precisaram percorrer um longo caminho de volta para casa através do deserto. Sem armas ou comida, em pouco tempo estavam esgotados e prestes a morrer de fome. Certo dia, porém, quando já haviam perdido as esperanças, Temüdjin avistou um falcão que devorava sua presa. Seu companheiro, acreditando que Deus se apiedara ao vê-los perecer e lhes estava enviando o que comer, sugeriu que perseguissem o falcão, tomasse-lhe a presa e saciassem então a fome. Ao contrário do outro jovem, no entanto, Temüdjin compreendeu naquele momento que o provento oferecido pela mãe Terra somente é permitido àqueles que são capazes de consegui-lo pelos próprios meios. Eles então capturaram o falcão e o treinaram para apanhar as presas que, divididas igualmente entre eles e a ave, iriam nutri-los ao longo de toda a jornada. Subsistindo desta maneira, graças à natureza virtuosa do falcão, simples e verdadeira em toda a sua magnitude e à astúcia e sensibilidade do jovem Temüdjin, capaz de compreender as mensagens sutis que a vida nos sussurra aos ouvidos, sempre que nos dispomos a ouvi-la. Quase dois anos mais tarde ambos conseguiram retornar aos seus reinos."

Suponhamos agora que o jovem Temüdjin tivesse morrido de fome e não houvesse capturado e treinado o falcão ou mesmo que tivesse roubado a sua presa e se saciado momentaneamente, apenas...

Se assim fosse e os jovens viajantes houvessem sucumbido ante a rigorosa inclemência do deserto, a História poderia jamais haver conhecido o homem Temüdjin, que mais tarde se tornaria o maior conquistador de todos os tempos, conhecido como o grande Genghis Khan!

Extraído do Boletim ABFPAR VOL9/N01 - JUN2006