sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Empirismo na Falcoaria

Mítica e com o passar dos tempos cultural, a crença dos povos antigos com relação à ingestão do coração de seus inimigos - seja para adquirir sua força ou anular por completa sua existência - sempre esteve presente.
Isso se refletiu de maneira incisiva na Falcoaria onde apesar da presa ser completamente respeitada e estar longe de ser considerada uma inimiga, seu coração e fígado são até hoje as principais recompensas da ave de rapina após o lance, recebendo o adjetivo de "partes nobres", onde devem ser ingeridas ainda quentes e cheias de sangue para que a ave sinta o sabor e se estimule cada vez mais a caçar.
Nos dias de hoje sabemos que a olfação e gustação, sendo muito rudimentares nas aves, prejudicam demais a sensibilidade para distinguir um alimento quente, frio, saboroso ou não. Além do mais já possuímos um conhecimento amplo sobre Fisiologia e Etologia, o qual nos dá um maior embasamento e entendimento de questões que antes eram apenas observadas e supostas na prática. 
Nos países onde a arte é regulamentada, após o lance o Falcoeiro deve oferecer à sua ave o sangue da presa para que ela beba e também haja a ingestão do coração e fígado, mas não para que ela seja uma eficiente caçadora ou para honrar a caça. Na verdade, ao longo de uma perseguição onde há uma situação de estresse (luta e fuga), o glicogênio que é o principal carboidrato presente na carne dos seres vivos sai da musculatura e entra na circulação sangüínea. Deixar a ave se alimentar do músculo peitoral da presa seria um erro pois além de ser uma ave de Falcoaria onde seu peso já é controlado, a perseguição exigiu um gasto anormal de energia que deve ser reposto. Oferecendo o sangue ele estará fazendo isto.
O mais interessante é imaginar como estes fatos foram sendo constatados ao longo dos milhares de anos de prática. Seria somente através da observação de uma melhora na performance da ave?

Só a caráter de curiosidade para aqueles que se preocupam bastante com a nutrição assim como eu, alimento abatido e resfriado a mais de 24 horas perdem quase todo o glicogênio da musculatura caindo de 1,5% no momento de abate para 0,5% depois das 24 horas. O fígado armazena boa parte destes 1,5% e por isso é essencial que ele seja oferecido juntamente com todo o resto.

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