Existem
muitos tipos de poleiros para Falcoaria só que é de extrema importância que o
iniciante tenha um conhecimento prévio para identificar pelo menos dois
requisitos básicos. Primeiro, um poleiro deve ser seguro. A ave não pode
conseguir se enroscar ou se ferir de forma nenhuma. Segundo, o poleiro deve ser
confortável. Poleiros desconfortáveis ou inapropriados podem resultar em
diversas lesões, inclusive a pododermatite, além de colaborar para que uma ave
fique inquieta. Espantosamente poucos poleiros atendem a estes dois simples
requisitos. Basta um rápido passeio em qualquer encontro de Falcoaria para
observar poleiros ora muito grandes ou pequenos para seus ocupantes. Modelos
que podem fazer a ave se enroscar facilmente sempre que se debate ou revestidos
com materiais que parecem ter sido trazidos da idade média.
Não há
desculpa para um poleiro mal feito, mesmo porque hoje em dia existe muita
disponibilidade de informações e em muitos casos eles são bem mais simples de
se construir do que aqueles cheios de componentes e ângulos retos que alguns
usam por aí.
A maioria
dos poleiros têm um uso específico seja para transporte, balança, treino,
recintos, para dentro e fora de casa. Este artigo objetiva discutir os
comumente usados bem como sua função, além de quais são os ocupantes mais indicados
para determinado modelo, etc.
No
dia-a-dia uso com minhas aves o poleiro em arco e em bloco sendo os blocos para
falcões e arcos para gaviões. Muitos poleiros de jardim ao invés de possuir uma base, são construídos para fincar no chão e quando a ave vai para dentro da
casa ou recinto de chão duro, usa-se o mesmo molde mas com uma base longa ou
grande o bastante para que não tombe ou seja arrastado pela ave.
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Poleiros em arco e bloco. |
Poleiros em
arco:
São
essencialmente poleiros em formato curvo com uma argola corrente que deve
deslizar livremente entre uma ponta e outra. Esta argola é onde o leash da ave
será atado. São feitos de metal e podem ser revestidos com corda ou Astroturf.
Quando feito de maneira apropriada é um ótimo poleiro, ao contrário daqueles
feitos erroneamente que sem sombra de dúvidas serão perigosos para a ave.
Para que
ele funcione corretamente a argola deve ser capaz de deslizar livremente de uma
ponta a outra. Isso favorece para que o leash não seja muito longo evitando
assim trancos muito fortes quando a ave se debate além de não incentivar que
ela ande em círculos por baixo do poleiro piorando ainda mais a sua situação.
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Leash comprido pode lesionar a ave. |
A
angulação do poleiro é outro fator chave para que a argola deslize de forma
correta e o indicado é 45 graus. A altura pode variar de 15cm a 20cm para aves
pequenas e médias e 25cm a 30cm para as grandes. O comprimento do arco deve ser
pelo menos três vezes a altura. Se a altura é 1/3 do comprimento, o ângulo será
de 45 graus.
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Detalhe da angulação correta do poleiro em arco. |
O revestimento deve ser bem observado no arco pois ele pode afetar
o deslizamento da argola. Tenho o costume de usar corda ou Astroturf rígido: No
caso da corda, evite as mais espessas que 1/2” pois a argola pode se enroscar
nas protuberâncias. Dê preferência para as de 1/4". Se sua vontade for
revestir de Astroturf, instale somente na área onde a ave ficará empoleirada e cuide
para que as extremidades fiquem mais suaves e cônicas. Eu tenho o costume de
usar fita isolante para este acabamento. A espessura é um assunto um pouco
delicado. Como subentende-se que quem utilizam os poleiros em arco são gaviões,
isto é, aves que têm um maior costume de escolher galhos para se empoleirar,
tento fazer com que a espessura do revestimento não seja grossa o suficiente
para a ave ficar com os pés completamente abertos ou fina o bastante para que
eles se fechem por completo. Busco um meio termo.
Poleiros em
bloco:
A
superfície achatada dos blocos por lembrar as rochas em que normalmente falcões
ficam pousados são mais confortáveis para aves do gênero Falco. Poleiros em
bloco podem ser muito simples ou sofisticados como é o caso daqueles feitos com
madeira de lei torneada ou materiais sintéticos de última geração como Kevlar,
por exemplo. Em geral são feitos de madeira comum atados a um vergalhão liso de
metal e uma argola onde o leash é amarrado. Há quem faça blocos de metal
fundido, mármore, granito ou concreto, o que eu não acho bom pois em altas
temperaturas eles esquentam demais e em baixas esfriam muito causando
desconforto à ave. Fibra de vidro e alguns outros materiais sintéticos podem
ser aceitáveis justamente por este fator da temperatura citado acima não se aplicar.
Para revestimento neste caso, considero insubstituível o Astroturf sendo usado
em diferentes texturas dependendo da ave que irá utiliza-lo. O diâmetro da base
do poleiro em bloco é muito importante. Deve ser grande o bastante para que os
jesses da ave não passem um para cada lado da base e a ave fique presa com uma
perna para cada lado do vergalhão. Caso aconteça, ao debater-se para tentar
sair daquela situação todas suas penas e até mesmo seus membros inferiores
poderão ser lesionados. Para evitar esta situação certifique-se que a base é
grande o bastante e não utilize jesses muito longos. Muito curtos também serão
um problema, porém discutido em um próximo artigo.
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Jesses longos e bases pequenas não combinam. |
Diâmetros
de 15cm a 20cm são recomendados para Falco peregrinus e similares, 10cm a 15cm
para Falco femoralis e similares. Para o vergalhão de metal, use os lisos que
têm uma capacidade maior de deslizar a argola. Você pode fixar permanentemente
o vergalhão no bloco ou se for mais hábil e possuir mais recursos, construir
uma rosca para trocar o bloco quando desejar. Na outra extremidade faça uma
ponta para que ele seja fincado na terra e solde um limitador para que a argola
não escape. Em média 10cm de vergalhão deve entrar no bloco, a distância entre
o bloco e o limitador pode variar entre 10cm e 25cm e o restante que entrará no
chão pode ser de 15cm a 20cm. Esta altura entre o bloco e o limitador de argola
ditará a altura que o falcão ficará do chão. Alguns falcoeiros preferem deixar
suas aves mais próximas ao chão e outros gostam de oferecer um pouco mais de
altura; Poleiros muito altos podem fazer com que a ave machuque as almofadas dos
pés com o impacto quando se debatem enquanto os muito baixos dão a algumas aves
um maior sentimento de insegurança. Bom senso neste caso é imprescindível.
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Esquema de poleiro em bloco. |
Para precaver
ainda mais que a ave não se enrole no bloco, há quem revista o vergalhão entre
o bloco e o limitador com um conduíte metálico que fica solto envolvendo a peça
principal. Caso a argola não dê conta dos movimentos da ave em torno do próprio
eixo e mesmo assim o leash se enrole no vergalhão, este conduíte garante uma maior mobilidade
para que o leash não se enrole. Ele deve ter a medida exata e não
deve deixar nenhuma fresta para que a argola não enrosque em nenhuma das
extremidades, tanto de cima como embaixo.
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Conduíte envolvendo o vergalhão evita que o leash se enrole. |
Para
utilizar o poleiro em bloco dentro de casa, basta adicionar uma base grande o
bastante para que ele não tombe e pesada para evitar que seja arrastado. Como
neste caso há um grande acúmulo de sujeira, dou preferência ao poleiro de
parede onde corto um meio círculo de madeira com diâmetro de 25cm revestido com
Astroturf e fixo na parede a uma altura de 30cm do chão e uma argola chumbada
na parede bem próxima ao chão para que o leash não danifique a cauda quando
houver agitação.
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Poleiro de parede. |
Algumas
observações que gostaria de comentar sobre estes dois principais tipos de
poleiros: Mesmo as aves sendo de diferentes gêneros, espécies ou até mesmo
subespécies, são indivíduos munidos de personalidade própria e desta forma
podem preferir poleiros atípicos. Buteos por exemplo, sendo accipitrideos, via
de regra são colocados em poleiros em arco durante toda sua vida, apesar disso,
se observarmos ao longo das estradas de nosso país, muitos deles dão
preferência para os topos de postes ao invés dos fios e cabos redondos e isto
pode ser observado também com falcões. Este é um ponto para reflexão.
Outra
observação que gostaria de deixar registrada é sobre a função primordial dos
revestimentos de poleiros que indiquei aqui. Eles devem ser sempre rugosos para
estimular a circulação sangüínea no pé da ave para que ela não venha a ter
problemas articulares, distúrbios circulatórios e o mais temido de todos, a
pododermatite. Sendo assim, sempre procure variar as superficies oferecidas à
sua ave nunca optando por nada muito macio ou liso.
Poleiro
para transporte:
Como os
outros tipos de poleiros, estes possuem alguns requerimentos de segurança necessários
para serem construídos. O mais importante neste caso é que a ave tenha um local
para apoiar sua cauda. O apoio de cauda pode ser simplesmente uma extensão da
superfície do poleiro até a base para que quando a ave se desequilibre e busque
uma sustentação com a cauda, não encontre um vazio como é o caso do poleiro em
arco, por exemplo. Não há problemas em utilizar um arco para transporte,
contanto que ele seja adaptado para tal função.
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Adaptação de poleiro em arco para transporte. |
Outro fator importante é que o
poleiro esteja bem fixado ou encaixado no carro para que ele não se mova ou
escorregue causando maiores desconfortos para a ave. Recomendo que para o
transporte, Astroturf rígido seja usado pois ele pode absorver um pouco da
trepidação do carro em movimento. Há quem utilize um simples pneu velho para a
função de poleiro para transporte e apesar de eu nunca ter usado acho bastante
interessante pois atende a todos os requisitos apontados por mim acima. De
qualquer forma, o modelo que mais me agrada consiste em uma base quadrada de
madeira podendo medir 60cm x 60cm parafusada a uma tábua retangular de 60cm de
comprimento e 30cm de altura revestida de Astroturf rígido possuindo argolas
parafusadas ou furos na madeira para amarrar o leash.
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Poleiro para transporte com o detalhe do apoio de cauda. |
Uma dica é
manter sempre a ave perpendicularmente ao banco de passageiros para que ela se
equilibre melhor e o primordial, dirigir com cuidado, ciente do que está
transportando.
Poleiros
para balança:
Vejo por aí
muita gente fazendo poleiros em T elaboradíssimos para sua balança e muitos
desses possuem uma base muito pequena o que pode transformar uma simples
pesagem em algo traumático, principalmente para uma ave em início de treino. Se
o poleiro não for fixo na balança ele deve ter uma base sólida que ofereça
segurança à ave e isso é muito simples de ser construído. Há quem utilize latas
de achocolatado em pó com conteúdo pesado dentro, outros fazem com uma peça curta de
cano PVC de 6” tapados com tampa de canos munidos de conteúdo dentro, ambos revestidos
com Astroturf. Independente destas duas escolhas a ave estará segura.
Chega ao
fim mais um artigo sobre equipamentos. Tentei colocar aqui as idéias que
considero mais seguras. Volto a alertar o leitor que sempre reflita muito bem sobre projeto antes de executa-lo, tenha auto crítica e imagine sempre o pior em
todos os detalhes. Assim quando colocar sua ave em um poleiro, estará fazendo com
a certeza de que pensou no melhor para ela.
Créditos de imagem:
- KIMSEY, Bryan; HODGE, James. Falconry Equipment. Kimsey/Hodge Publications, Houston, TX, 2007.