sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Aquele cara tem olhos de águia e é mais rápido que um raio!


Recentemente passeando pelo Youtube, assisti um video que me chamou um pouco a atenção. Em cena havia o falcão comendo sobre a isca enquanto o câmera filmava dois "atores" batendo um papo bem descontraído a medida que a ave se alimentava. Num determinado momento decidiram fazer a troca e enquanto um deles executava, o outro aconselhava para que a isca fosse escondida rapidamente, caso contrário a ave iria ver seu movimento e o resultado não seria positivo para o treino.
Sabemos que nossas aves enxergam muito bem mas será que realmente conhecemos do que elas são capazes e até se elas vivem na mesma freqüência visual que a nossa? As aves de rapina possuem a visão mais desenvolvida dentre todos os seres vivos no planeta. Como em humanos e algumas outras espécies, mas diferente da maioria dos mamíferos, elas enxergam em cores tão bem como em branco e preto. A retina sensível à luz no preto dos olhos contém células cone sensíveis a cor e células bastonetes que necessitam de pouca luz para serem estimuladas, mais recorridas nos momentos de pouca luz. Elas também conseguem experimentar um espectro de luz bem mais amplo que o nosso, isto é, vêem muito mais tonalidades de cores. Estudos mostram inclusive que algumas aves são capazes de enxergar na extensão ultravioleta, isto é, um comprimento de onda menor do que a luz visível por humanos. Assim, alguns padrões de plumagem, que para nós parece sem graça, para nossas aves pode ser muito colorido. Nelas, as células em formato de cone estão densamente agrupadas se comparado com humanos tornando além da maior capacidade em observar mais variedade de cores, a resolução de sua visão até oito vezes maior do que a nossa.
Na parte superior de cada célula cone há uma gotícula de óleo, geralmente vermelha, laranja, amarela, translúcida, ou verde. Estas intensificam o contraste de objetos coloridos e também atuam como filtros de neblina. Saliente na retina, o pente (ou pécten) é um corpo grande, alongado e bem irrigado por vasos sangüíneos que atua como uma espécie de detector de movimentos.
A maioria dos músculos que controlam o olho e a pupila das aves de rapina são de origem estriada esquelética, isto é, podem ser controlados de maneira voluntária. Assim um Aplomado recém desencapuzado em local com muita luminosidade consegue prontamente ajustar suas pupilas para evitar que fique ofuscado ou até mesmo voar em direção ao sol sem muito incômodo. Para focar um objeto próximo, a pupila e o músculo esclerocorneal anterior (ou músculo de Crampton) é capaz de estreitar o cristalino e córnea causando o efeito desejado.
Além das cores, a noção de velocidade e consequentemente os reflexos das aves de rapina também são atribuídos a visão. O cérebro humano é capaz de interpretar até 20 quadros por segundo, então quando assistimos um desenho animado e vemos o personagem se movimentar, foi necessário que mais de 20 desenhos tenham sido exibidos em um segundo para o nosso cérebro interpretar aquilo como um movimento. De forma simplificada a televisão funciona da mesma maneira, ela pisca em torno de 25 imagens por segundo e isso faz nosso cérebro interpretar o movimento.
Acredita-se que a maior parte das aves de rapina diurnas enxergam de 70 a 80 quadros por segundo. Isso se torna necessário pois devem ser capazes de fazer perseguições em alta velocidade e na maioria das vezes atrás de presas muito mais ágeis, além da necessidade de manobrar e se desviar de obstáculos. Estes sistemas sensoriais rápidos necessitam de um sistema nervoso central rápido o bastante para terem suporte. Em aves do gênero Accipiter - ornitófagos extremamente eficientes - é provável que algumas dessas vias nervosas dos olhos e ouvidos, através de neurônios sensoriais para os neurônios motores que controlam os músculos, tenham apenas pequenas ligações com neurônios de associação no cérebro. Dado o tempo necessário para os impulsos atravessarem o sistema nervoso e os períodos de latência entre eles, o Accipiter não teria muito tempo para pensar conscientemente sobre sua reação para assegurar que ele a fez apropriadamente. Inclusive temos o hábito de dizer que são aves de comportamento difícil, que reagem de forma ruim até mesmo recebendo o mais brando estímulo. O que não levamos em consideração é que naturalmente ele vive em um mundo que se move dez vezes mais rápido do que o nosso e é importante ter em mente que mesmo estando fisicamente lado a lado da ave, mentalmente vivemos em mundos diferentes.

E aí? Será que por mais rápido que o rapaz no video do Youtube foi, ele conseguiu enganar a ave? Ou são necessários meios persuasivos para que a troca seja menos traumática?

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