segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Equipamentos (Poleiros)

Existem muitos tipos de poleiros para Falcoaria só que é de extrema importância que o iniciante tenha um conhecimento prévio para identificar pelo menos dois requisitos básicos. Primeiro, um poleiro deve ser seguro. A ave não pode conseguir se enroscar ou se ferir de forma nenhuma. Segundo, o poleiro deve ser confortável. Poleiros desconfortáveis ou inapropriados podem resultar em diversas lesões, inclusive a pododermatite, além de colaborar para que uma ave fique inquieta. Espantosamente poucos poleiros atendem a estes dois simples requisitos. Basta um rápido passeio em qualquer encontro de Falcoaria para observar poleiros ora muito grandes ou pequenos para seus ocupantes. Modelos que podem fazer a ave se enroscar facilmente sempre que se debate ou revestidos com materiais que parecem ter sido trazidos da idade média.
Não há desculpa para um poleiro mal feito, mesmo porque hoje em dia existe muita disponibilidade de informações e em muitos casos eles são bem mais simples de se construir do que aqueles cheios de componentes e ângulos retos que alguns usam por aí.
A maioria dos poleiros têm um uso específico seja para transporte, balança, treino, recintos, para dentro e fora de casa. Este artigo objetiva discutir os comumente usados bem como sua função, além de quais são os ocupantes mais indicados para determinado modelo, etc.
No dia-a-dia uso com minhas aves o poleiro em arco e em bloco sendo os blocos para falcões e arcos para gaviões. Muitos poleiros de jardim ao invés de possuir uma base, são construídos para fincar no chão e quando a ave vai para dentro da casa ou recinto de chão duro, usa-se o mesmo molde mas com uma base longa ou grande o bastante para que não tombe ou seja arrastado pela ave.
Poleiros em arco e bloco.
Poleiros em arco:
São essencialmente poleiros em formato curvo com uma argola corrente que deve deslizar livremente entre uma ponta e outra. Esta argola é onde o leash da ave será atado. São feitos de metal e podem ser revestidos com corda ou Astroturf. Quando feito de maneira apropriada é um ótimo poleiro, ao contrário daqueles feitos erroneamente que sem sombra de dúvidas serão perigosos para a ave.
Para que ele funcione corretamente a argola deve ser capaz de deslizar livremente de uma ponta a outra. Isso favorece para que o leash não seja muito longo evitando assim trancos muito fortes quando a ave se debate além de não incentivar que ela ande em círculos por baixo do poleiro piorando ainda mais a sua situação.

Leash comprido pode lesionar a ave.
A angulação do poleiro é outro fator chave para que a argola deslize de forma correta e o indicado é 45 graus. A altura pode variar de 15cm a 20cm para aves pequenas e médias e 25cm a 30cm para as grandes. O comprimento do arco deve ser pelo menos três vezes a altura. Se a altura é 1/3 do comprimento, o ângulo será de 45 graus.

Detalhe da angulação correta do poleiro em arco.
O revestimento deve ser bem observado no arco pois ele pode afetar o deslizamento da argola. Tenho o costume de usar corda ou Astroturf rígido: No caso da corda, evite as mais espessas que 1/2” pois a argola pode se enroscar nas protuberâncias. Dê preferência para as de 1/4". Se sua vontade for revestir de Astroturf, instale somente na área onde a ave ficará empoleirada e cuide para que as extremidades fiquem mais suaves e cônicas. Eu tenho o costume de usar fita isolante para este acabamento. A espessura é um assunto um pouco delicado. Como subentende-se que quem utilizam os poleiros em arco são gaviões, isto é, aves que têm um maior costume de escolher galhos para se empoleirar, tento fazer com que a espessura do revestimento não seja grossa o suficiente para a ave ficar com os pés completamente abertos ou fina o bastante para que eles se fechem por completo. Busco um meio termo.

Poleiros em bloco:
A superfície achatada dos blocos por lembrar as rochas em que normalmente falcões ficam pousados são mais confortáveis para aves do gênero Falco. Poleiros em bloco podem ser muito simples ou sofisticados como é o caso daqueles feitos com madeira de lei torneada ou materiais sintéticos de última geração como Kevlar, por exemplo. Em geral são feitos de madeira comum atados a um vergalhão liso de metal e uma argola onde o leash é amarrado. Há quem faça blocos de metal fundido, mármore, granito ou concreto, o que eu não acho bom pois em altas temperaturas eles esquentam demais e em baixas esfriam muito causando desconforto à ave. Fibra de vidro e alguns outros materiais sintéticos podem ser aceitáveis justamente por este fator da temperatura citado acima não se aplicar. Para revestimento neste caso, considero insubstituível o Astroturf sendo usado em diferentes texturas dependendo da ave que irá utiliza-lo. O diâmetro da base do poleiro em bloco é muito importante. Deve ser grande o bastante para que os jesses da ave não passem um para cada lado da base e a ave fique presa com uma perna para cada lado do vergalhão. Caso aconteça, ao debater-se para tentar sair daquela situação todas suas penas e até mesmo seus membros inferiores poderão ser lesionados. Para evitar esta situação certifique-se que a base é grande o bastante e não utilize jesses muito longos. Muito curtos também serão um problema, porém discutido em um próximo artigo.
Jesses longos e bases pequenas não combinam.
Diâmetros de 15cm a 20cm são recomendados para Falco peregrinus e similares, 10cm a 15cm para Falco femoralis e similares. Para o vergalhão de metal, use os lisos que têm uma capacidade maior de deslizar a argola. Você pode fixar permanentemente o vergalhão no bloco ou se for mais hábil e possuir mais recursos, construir uma rosca para trocar o bloco quando desejar. Na outra extremidade faça uma ponta para que ele seja fincado na terra e solde um limitador para que a argola não escape. Em média 10cm de vergalhão deve entrar no bloco, a distância entre o bloco e o limitador pode variar entre 10cm e 25cm e o restante que entrará no chão pode ser de 15cm a 20cm. Esta altura entre o bloco e o limitador de argola ditará a altura que o falcão ficará do chão. Alguns falcoeiros preferem deixar suas aves mais próximas ao chão e outros gostam de oferecer um pouco mais de altura; Poleiros muito altos podem fazer com que a ave machuque as almofadas dos pés com o impacto quando se debatem enquanto os muito baixos dão a algumas aves um maior sentimento de insegurança. Bom senso neste caso é imprescindível.

Esquema de poleiro em bloco.
Para precaver ainda mais que a ave não se enrole no bloco, há quem revista o vergalhão entre o bloco e o limitador com um conduíte metálico que fica solto envolvendo a peça principal. Caso a argola não dê conta dos movimentos da ave em torno do próprio eixo e mesmo assim o leash se enrole no vergalhão, este conduíte garante uma maior mobilidade para que o leash não se enrole. Ele deve ter a medida exata e não deve deixar nenhuma fresta para que a argola não enrosque em nenhuma das extremidades, tanto de cima como embaixo.

Conduíte envolvendo o vergalhão evita que o leash se enrole.
Para utilizar o poleiro em bloco dentro de casa, basta adicionar uma base grande o bastante para que ele não tombe e pesada para evitar que seja arrastado. Como neste caso há um grande acúmulo de sujeira, dou preferência ao poleiro de parede onde corto um meio círculo de madeira com diâmetro de 25cm revestido com Astroturf e fixo na parede a uma altura de 30cm do chão e uma argola chumbada na parede bem próxima ao chão para que o leash não danifique a cauda quando houver agitação.

Poleiro de parede.
Algumas observações que gostaria de comentar sobre estes dois principais tipos de poleiros: Mesmo as aves sendo de diferentes gêneros, espécies ou até mesmo subespécies, são indivíduos munidos de personalidade própria e desta forma podem preferir poleiros atípicos. Buteos por exemplo, sendo accipitrideos, via de regra são colocados em poleiros em arco durante toda sua vida, apesar disso, se observarmos ao longo das estradas de nosso país, muitos deles dão preferência para os topos de postes ao invés dos fios e cabos redondos e isto pode ser observado também com falcões. Este é um ponto para reflexão.
Outra observação que gostaria de deixar registrada é sobre a função primordial dos revestimentos de poleiros que indiquei aqui. Eles devem ser sempre rugosos para estimular a circulação sangüínea no pé da ave para que ela não venha a ter problemas articulares, distúrbios circulatórios e o mais temido de todos, a pododermatite. Sendo assim, sempre procure variar as superficies oferecidas à sua ave nunca optando por nada muito macio ou liso.

Poleiro para transporte:
Como os outros tipos de poleiros, estes possuem alguns requerimentos de segurança necessários para serem construídos. O mais importante neste caso é que a ave tenha um local para apoiar sua cauda. O apoio de cauda pode ser simplesmente uma extensão da superfície do poleiro até a base para que quando a ave se desequilibre e busque uma sustentação com a cauda, não encontre um vazio como é o caso do poleiro em arco, por exemplo. Não há problemas em utilizar um arco para transporte, contanto que ele seja adaptado para tal função.

Adaptação de poleiro em arco para transporte.
Outro fator importante é que o poleiro esteja bem fixado ou encaixado no carro para que ele não se mova ou escorregue causando maiores desconfortos para a ave. Recomendo que para o transporte, Astroturf rígido seja usado pois ele pode absorver um pouco da trepidação do carro em movimento. Há quem utilize um simples pneu velho para a função de poleiro para transporte e apesar de eu nunca ter usado acho bastante interessante pois atende a todos os requisitos apontados por mim acima. De qualquer forma, o modelo que mais me agrada consiste em uma base quadrada de madeira podendo medir 60cm x 60cm parafusada a uma tábua retangular de 60cm de comprimento e 30cm de altura revestida de Astroturf rígido possuindo argolas parafusadas ou furos na madeira para amarrar o leash.

Poleiro para transporte com o detalhe do apoio de cauda.
Uma dica é manter sempre a ave perpendicularmente ao banco de passageiros para que ela se equilibre melhor e o primordial, dirigir com cuidado, ciente do que está transportando.

Poleiros para balança:
Vejo por aí muita gente fazendo poleiros em T elaboradíssimos para sua balança e muitos desses possuem uma base muito pequena o que pode transformar uma simples pesagem em algo traumático, principalmente para uma ave em início de treino. Se o poleiro não for fixo na balança ele deve ter uma base sólida que ofereça segurança à ave e isso é muito simples de ser construído. Há quem utilize latas de achocolatado em pó com conteúdo pesado dentro, outros fazem com uma peça curta de cano PVC de 6” tapados com tampa de canos munidos de conteúdo dentro, ambos revestidos com Astroturf. Independente destas duas escolhas a ave estará segura.

Chega ao fim mais um artigo sobre equipamentos. Tentei colocar aqui as idéias que considero mais seguras. Volto a alertar o leitor que sempre reflita muito bem sobre projeto antes de executa-lo, tenha auto crítica e imagine sempre o pior em todos os detalhes. Assim quando colocar sua ave em um poleiro, estará fazendo com a certeza de que pensou no melhor para ela.

Créditos de imagem:
KIMSEY, Bryan; HODGE, James. Falconry Equipment. Kimsey/Hodge Publications, Houston, TX, 2007.

Um comentário:

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