Diferentemente da maioria dos mamíferos em que os espermatozoides gastam
considerável quantidade de tempo no trato masculino e relativo tempo curto no
trato feminino, os espermatozoides das aves provavelmente ficam armazenados não
mais do que 4 a 5 dias nos dutos deferentes do macho. Depois da cópula,
contudo, os espermatozoides permanecem por períodos prolongados de tempo (30
dias ou mais, dependendo da espécie), alojados dentro dos túbulos de
armazenamento de sêmen do oviduto localizados na junção útero-vaginal da fêmea.
Esta junção é composta por vilosidades e dentro delas os espermatozoides são
armazenados.
O modo como estes espermatozoides entram, sobrevivem e obtem êxito
nestes túbulos de armazenamento é desconhecido, evidências atuais sugerem que a
liberação de espermatozoides para o oviduto se dê a partir das contrações de
oviposição ocasionada por ondas de LH (hormônio luteinizante), mas isto ainda é
pouco detalhado. Estes espermatozoides sobem para o oviduto por meio de contrações da
musculatura lisa e atividade ciliar e acumulam-se nas pregas da mucosa e
glândulas tubulares curtas no Infundíbulo distal. Por ocasião da ovulação, os
espermatozoides são liberados para fertilizar os óvulos. Ainda no infundíbulo o
ovo atinge a região calazífera, a mais estreita porção glandular deste
segmento. A secreção desta região forma uma camada perivitelina e provavelmente
contribui para a formação das calazas.
O oviduto das aves é dividido em 6 partes após o ovário. São elas:
Infundíbulo, ístimo, magno, glândula da casca ou útero, vagina e cloaca.
O Magno é a região secretora de albume. Ele é o segmento mais longo do
oviduto e distingue-se do Infundíbulo e do Ístimo pelo seu diâmetro externo
maior, paredes mais espessas e dobras luminais mais volumosas. A maior parte
das 40 proteínas encontradas no albume são formadas na mucosa do oviduto e elas
são secretadas à medida que a massa do ovo em desenvolvimento desce para o
Magno. Embora o estímulo necessário para a secreção destas proteínas seja
desconhecido, existem três possibilidades: 1- o ovo em desenvolvimento provoca
liberação de albume por meios mecânicos ou outros, 2- mecanismos hormonais
sincronizam a liberação e 3- algum mecanismo coordenador nervoso está
envolvido.
O Ístimo, que forma a membrana da casca ao redor do ovo em
desenvolvimento, é caracterizado por paredes mais estreitas e dobras luminares
menos volumosas do que aquelas encontradas no Magno. Pouco se sabe sobre os
mecanismos envolvidos na formação de proteínas da membrana da casca ou de sua
liberação e deposição sobre o ovo. Observa-se, contudo, que enquanto o ovo
albuminoso está entrando no Ístimo, uma membrana é depositada naquelas partes
em contato com o tecido glandular. A forma típica do ovo é produzida pelas
membranas e não pela casca calcificada, que é depositada sobre uma forma já
pronta. Neste estágio, as membranas estão frouxamente aplicadas sobre o ovo,
que apresenta cerca de 50% de sua massa final.
A glândula da casca, também conhecida como útero, é caracterizada por
uma secção em forma de bolsa ligada ao Ístimo por um “colo” curto e por extensa
muscularização. O ovo permanence na glândula da casca por aproximadamente 20
horas. Durante as primeiras 6 horas ou aproximadamente, um fluído aquoso
produzido pela região do colo passa para dentro do ovo, resultando em um
aumento de duas vezes na massa da clara do ovo. Contudo essa “inchação” pode
continuar durante o tempo em que o ovo permanence na glândula da casca. Depois
disso, o principal processo é a calcificação. Durante seu estágio na glândula
da casca, a rotação do ovo ao redor do eixo leva ao acabamento da formação das
calazas, que se iniciaram no Infundíbulo, e à estratificação do albume.
A calcificação da casca provavelmente começa no Ístimo, onde pequenas
projeções da membrana, os centros mamilares são formados. No útero, o
crescimento dos cristais de calcita continua em um padrão constante de
mineralização (cerca de 300mg de cálcio por hora). O oviduto não armazena
cálcio, e cerca de 20% do cálcio sanguíneo são removidos à medida que ele passa
através da glândula da casca. As células específicas responsáveis pela
transferência de cálcio para a luz parecem ser as células epiteliais superficiais.
A tarefa final do útero é a formação da cutícula e a pigmentação; esta última
consiste de porfirinas depositadas logo antes da postura.
A vagina parece ser relativamente curta, primariamente porque sua metade
cranial é firmemente dobrada e intimamente ligada por tecido conjuntivo. A
camada muscular é bem desenvolvida e as pregas luminares são altas e estreitas.
A vagina serve de passagem para o ovo formado do útero para a cloaca na
oviposição. Ela possui também uma importante função na seleção, transporte e
armazenamento de espermatozoides.
O ovo em desenvolvimento gasta cerca ce 15 minutos no Infundíbulo. No
Magno sua velocidade média é de cerca de 2mm por minuto, levando portanto cerca
de 2 a 3 horas para atravessar esta região. O ovo leva cerca de 1 a 1,5 hora
para atravessar o Ístimo. Cerca de 20 horas de seu tempo total de permanência
no oviduto (cerca de 26 horas) são gastos no útero. A passagem através da
vagina leva poucos segundos.
A- Infundíbulo; B- Magno; C- Ístimo; D- Glândula da casca ou Útero; E- Vagina; F- Cloaca. |
Não se conhece precisamente como é iniciada a oviposição, porém ambos os
mecanismos hormonal e nervoso estão envolvidos. A contração da musculatura da
glândula da casca força o ovo formado através da vagina na oviposição. Isto
pode ser sobre controle nervoso, pois o estímulo do sistema nervoso central
pode afetá-la, porém hormônios também estão envolvidos.
A vasotocina arginina, que é liberada da hipófise posterior, e
prostaglandinas, originárias do folículo pós ovulatório formado há 26 horas,
também contribuem para a contração e para a expulsão do ovo da glândula da
casca. Com a contração da musculatura uterina, ocorre um relaxamento do
esfíncter útero-vaginal, possivelmente análogo à cervix dos mamíferos. O ovo é
então empurrado à frente para dentro da vagina, e a distensão geral das paredes
vaginais provoca o reflexo da postura. Isto envolve modificações da respiração
e posição, e a contração dos músculos abdominais.